sábado, 30 de abril de 2011

4 - Da Itália ao Brasil - "ITÁLIA MOVIMENTO DE IMIGRAÇÃO"


Introdução

ITÁLIA MOVIMENTO DE IMIGRAÇÃO


Entre 1870 e 1925 ocorreu um movimento de imigração, que fez sair da Itália mais de 17 milhões de pessoas, encaminhando-se para diversos países.

Os italianos espalharam-se pelo mundo e seus descendentes (cerca de 60 milhões) são hoje mais numerosos que a população da Itália. Só no Brasil são cerca de 25 milhões. Por que alguém deixaria seu país, sua cidade de origem, com destino a um mundo desconhecido, distante, levando consigo toda a sua família?

Os vários livros e documentos que tratam de imigração são unânimes: a fome. A Itália é a última nação européia a se unificar. O processo só se completa em 1870, nascendo o Reino da Itália. Após a unificação a situação é ruim. A pobreza é crônica.

O serviço militar é obrigatório por três anos, mostrando incerteza quanto à paz recentemente alcançada, e retirando do grupo familiar uma importante força de trabalho. A economia permanece estagnada de 1880 a 1886. O analfabetismo é altíssimo. Há desemprego generalizado e insegurança quanto ao futuro.

Na Itália, em 1861, dos 26 milhões de habitantes, apenas 600 mil falava italiano; em 1886, 70% da população (cerca de 20 milhões) continuava analfabeta; entre 1884 e 1887 a cólera matou 55 mil; em 1887 a malária vitimou 40 mil e a pelagra 100 mil. A população era cerca de 30 milhões, e 21 milhões eram camponeses, trabalhando a terra de outros.

"Os camponeses do norte comiam carne uma vez por mês, e os do sul, uma vez por ano".

No Vêneto, de economia tradicionalmente agrícola, os problemas eram muitos. Em 1882 há um inverno muito rigoroso, com grande queda na produção das videiras e de forragem (nos países em que há neve no inverno, é necessário armazenar comida para os animais, para ser consumida nessa época - a forragem). Em outros anos, a seca prejudicou as plantações.

"Na Sardenha, na Sicília, na Calábria, na Puglia, vemos cenas de completa barbárie, e a vida do negro, no cenário da escravidão, é preferível àquela dos camponeses de certa terra da Lombardia e do Vêneto".

O sistema fundiário, ao estilo feudal, fazia com que não existisse terra suficiente para a população plantar, e as pequenas propriedades iam sendo continuamente divididas entre os filhos, vendidas a baixo preço, ou então, passando para os filhos mais velhos, deixando os outros filhos não contemplados, sem terra e sem meios de sustento.

Todos esses fatores associados a uma superpopulação geraram um excedente de mão-de-obra barata, à beira do desespero. "O fenômeno é tão importante, que denuncia a dor da Itália".
“Que coisa entendeis por uma nação, Senhor Ministro? É a massa dos infelizes? Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos o pão branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho.”

Criamos os animais, mas não comemos a carne... Apesar disso, vós nos aconselhais... A não abandonar a nossa pátria. Mas é uma pátria a terra que não se consegue viver do próprio trabalho?

“ (Palavras de um imigrante italiano, em resposta a um ministro, também italiano, que o aconselhava a não imigrar) ”.

 Correlação Histórica Com o Brasil

Ao longo da segunda metade do século 19 o comércio internacional do café experimentava um enorme crescimento. À medida que se avolumava e tornavam-se mais fortes os movimentos abolicionistas, cresciam as preocupações com a lavoura, totalmente dependentes da mão-de-obra escrava.

Iniciam-se as discussões sobre a vinda de imigrantes para o Brasil. A partir de 1870, com a introdução de mão-de-obra assalariada, a imigração, antes uma opção, torna-se uma necessidade.

A proibição do tráfico de escravos (1850), a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagenários (1885), culminando com a abolição da escravatura (1888), foram os principais fatores que provocaram a criação de uma política de incentivo à imigração.

As autoridades para trazer imigrantes, antes sob controle do governo imperial, é delegada aos estados, então províncias. A província de São Paulo estabeleceu sua própria política de imigração. Os fazendeiros paulistas uniram-se e fundaram, em 1886, a Sociedade Promotora da Imigração, que se tornou responsável, juntamente com o governo provincial pela definição da política de imigração de São Paulo.

Uma propaganda maciça, onde o Brasil era mostrado como um paraíso, promissor, aliada às promessas de vantagens como moradia, alimentação, salário, e principalmente, possibilidade de compras de terras, e por fim, o financiamento das passagens influenciou a imigração voluntária.

Essas facilidades possibilitaram a saída de grandes contingentes de camponeses e lavradores assalariados de certas regiões da Itália, que dificilmente teriam condições de pagar a viagem.

Imigrantes Aguardando o Embarque em Genova - Itália


       Os Italianos: Histórico        


          Em 1886, o governo da província de São Paulo já tinha encontrado um meio efetivo de fornecer uns auxílios integrais aos imigrantes, cujas consequências foram quase imediatas.

         Quando os fazendeiros se viram finalmente confrontados, especialmente em 1887, com fugas em massas de escravos e a ameaça de desordens maiores, eles foram perfeitamente capazes de substituir rapidamente sua população de escravos, cada vez mais indisciplinados, por imigrantes italianos.

      Até maio de 1887, entre 60.000 e 70.000 imigrantes tinham sido
      empregados em estabelecimentos agrícolas em São Paulo. Esse núcleo já
      excedia os 50.000 escravos que, segundo se estimava no período, eram
      utilizados nas fazendas de São Paulo.
  
A política imigratória permaneceu essencialmente a mesma até a I Guerra Mundial. O programa de imigração permitiu aos fazendeiros paulistas não somente abolir a escravidão sem muitos incômodos, como também criar as condições para sustentar a expansão da produção cafeeira – o que foi favorecido, inicialmente, pelos altos preços do café.

Entre 1888 e 1902, o número de cafeeiros plantados em São Paulo aumentou de 221 milhões para 685 milhões.

Embarque de imigrantes italianos para o Brasil, por volta de 1900.




Nem todos, porém, puderam compartilhar da mesma esperança, quase sempre frustrada, por uma vida melhor.

Candidatos à imigração barrados na hora da partida por não preencher requisitos exigidos.


Os fazendeiros tiveram sorte quanto à coincidência da crise de mão-de-obra em São Paulo com um período crítico da economia italiana.

A competição desigual de cereais norte-americanos, mais baratos nos mercados italianos, somada a contínuos apuros da agricultura italiana, criou uma pronta oferta de imigrantes desesperados.  
                       
 Candidatos à imigração barrados
na hora da partida por não preencher
requisitos exigidos.

Durante os últimos anos da década de 1880, agentes do Brasil pululavam em Veneza e outras partes do Vale do Pó, estimulando “uma espécie de febre”, que levaria inúmeros trabalhadores agrícolas a partirem para o Brasil, na “esperança de lá encontrarem a terra prometida”, como escreveram os funcionários italianos de Treviso.

Alguns desses candidatos à emigração até viajaram a pé, cruzando a maior parte do norte da Itália sob um rigoroso inverno, para tomar os navios que em Gênova prometiam passagens grátis para Santos. Mas o destino a que os imigrantes estavam fadados no Brasil era praticamente tão sombrio quanto o que tinham deixado para trás.

Eles eram trazidos ao Brasil para um único propósito: fornecer mão-de-obra barata para as fazendas de café.

Como observou um deputado de São Paulo, logo depois da abolição: “precisamos de braços (...) no intuito de aumentar a concorrência de trabalhadores e mediante a lei da oferta e procura, diminuir o salário”.

... IN BRASILE !


Desembarque de Imigrantes no Porto de Santos - SP

Chegando no Porto de Santos – SP

Com poucas informações sobre o mundo novo, os imigrantes chegavam sem saber o que iriam encontrar. Depois de enfrentar até 60 dias nos porões de um navio a caminho de uma terra estranha, o alívio tomava conta dos passageiros ao desembarcar em Santos.


Essa sensação ia desaparecendo quando avistavam uma imensa muralha verde que parecia intransponível. Mas a primeira vista da Serra do Mar não era o que mais causava estranheza no olhar estrangeiro.



Terra Estrangeira


O que ficou marcado em suas memórias foi à viagem de subida rumo à Hospedaria de Imigrantes, na capital. Para a maioria, a viagem rumo a São Paulo começava assim que se colocava o pé em terra firme.

Quando o trem iniciava a subida da serra, muitos tinham a impressão de estar em plena selva repleta de bichos. A então densa mata atlântica causava tal pavor que, não raro, os imigrantes se jogavam pela janela na tentativa de retornar a Santos. Não achava possível haver cidade no meio daquele mato todo.

Após vários incidentes, a São Paulo Railway passou a travar os vidros do comboio para evitar fugas.Vencido o susto do primeiro contato desembarcava na estação da hospedaria.

Exauridos, abriam as bagagens e as depositavam no corredor da estação para tomar sol e amenizar o mofo.

Boa parte nem possuía malas. Seus poucos pertences eram transportados em sacos, mochilas, sacolas de estopa e caixas improvisadas.

Só os mais afortunados possuíam baús e malas. Além de roupas, traziam louças, talheres, máquinas de costura, instrumentos musicais e de trabalho, objetos de toucador, fotografias, relíquias de família e peças que lembrassem a terra natal.

(Continuação)
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Antonio Severini, Agosto 2007




Saúde, Paz e Felicidades a Todos Nós








   

                                                    
                                           

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