sábado, 30 de abril de 2011

8 - Da Itália ao Brasil - "ITALIA A BORDO"


"ITÁLIA A BORDO"

“ E não era somente uma aldeia grande, como me observava o Comissário; mas um pequeno Estado.

Na terceira classe estava o povo, a burguesia na segunda, na primeira a aristocracia;  o comandante e os oficiais superiores representavam o Governo,  o Comissário, a magistratura; e a imprensa poderia ser o escritório das reclamações e dos votos de felicidades, que eram abertos no salão do almoço.” SULL’OCEANO,  EDMONDO DE AMICIS

Publicado pela primeira vez em 1889, quando fez enorme sucesso,  “Sull Oceano”  conta à viagem de Genova a Montevidéu, feita por Edmondo de Amicis no navio Nord América, na primavera 1884.

Junto com De Amicis embarcaram 1800 passageiros que esperavam encontrar na América do Sul uma vida melhor; proveniente de quase todas as regiões da Itália, falavam somente o dialeto local, o que tornava impossível a comunicação até entre os companheiros de viagem.

O navio e seus passageiros descritos por De Amicis é uma representação da realidade italiana da época.


A distribuição dos imigrantes pelas três classes do navio reproduzia a estrutura social da Itália: a burguesia que viajava na primeira classe,  trazia capital para investir no Brasil, o que lhe assegurava um provável sucesso em seus empreendimentos.

Na segunda classe, o estrato médio era formado por artesãos, pequenos comerciantes, trabalhadores qualificados, quase já operários, com habilidades ou talento, com maior cultura para enfrentar o Novo Mundo.

E o campesinato pobre viajava na terceira classe, nos porões do navio. Aproximadamente, um milhão e quatrocentos mil italianos foram despejados no Oceano Atlântico em direção ao Brasil até 1892.

Os navios que os trouxeram eram em sua grande maioria embarcações de carga, adaptados ao transporte de passageiros. A primeira classe ficava na parte de cima, com espaçosos camarotes, salão de refeições, onde eram também oficiais superiores.

Na terceira classe, os banheiros e dormitórios coletivos ficavam em porões superlotados, uma cama ao lado da outra. As precárias condições favoreciam a proliferação de doenças, epidemias e mortes eram comuns nessas viagens.

Abaixo a descrição de uma viagem feita pelo imigrante Andréa Pozzobon:

“Quem escreve teve a desventura de embarcar no navio de nome Poitou, de triste memória e, como se pode ver por seu famoso nome, era francês, bem como o comandante e também a tripulação… apinhados como anchovas em barril, acomoda-se em beliches que lhes são assinalados, em lugar úmido, escuro, com cheiro tão nauseabundo que provoca nojo e horror”.

Coisa incrível se não fosse verdade. Uma viagem dessas, para as crianças e os idosos, era muito prejudicial.

Aquele que ler estas páginas talvez considere pessimismo excessivo, mas, posso garantir, é a pura verdade… Os passageiros engoliam os maus tratos e calavam.

O Navio Nord América

O jornalista e romancista italiano Edmondo de Amicis, autor célebre do romance que todos os jovens italianos lêem na escola primária (Cuore) realizou, em março de 1884, uma viagem a bordo do Nord América, de Gênova a Buenos Aires, por conta de um jornal de Turim.

O resultado de suas observações foi publicado em vários artigos, em seguida resumido no livro Sull’Oceano, retratando as desigualdades sociais no tratamento de classes distintas.

 Antonio Severini, Agosto de 2007.

 Saúde, Paz e Felicidade a Todos Nós

A imigração Além-Mar 

A Itália formou-se tardiamente como país e, por isso, não possuía colônias. Ao contrário dos espanhóis e portugueses, que imigravam em larga escala para suas ex-colônias devido há fatores histórico-culturais, os italianos não tinham essa opção.

De início, um grande contingente de italianos imigraram para outros países europeus, porém, as boas opções de emprego estavam nas Américas.

O Brasil, a Argentina, o Uruguai e, mais tarde, os Estados Unidos e a Austrália passaram a buscar novas fontes de imigrantes para abraçarem as ofertas de emprego sem candidatos.
 

Bandeira: Italiana
Armador: Matteo Bruzzo & Co.
País construtor: Grã-Bretanha
Estaleiro construtor: John Elder & Co. (porto: Govan - Escócia)
Ano da viagem inaugural: 1882Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 4.826Comprimento: 128 mBoca (largura): 15 mConveses: 5
Velocidade média: 16 nós
Passageiros: 1.460
Classes:       1ª -        90
                      2 ª -     100
                      3ª -   1.270

O Navio POITOU, viagem de Andréa Pozzobon

Construído em 1867, pertenceu à  companhia francesa SGTM Lines – Societe Generale du Transports Maritimes. Ele pesava 2303 toneladas brutas, tinha 99 metros de comprimento e 10,6 metros de largura, o que corresponde a 324,8 x 34,8 pés.

Ele tinha apenas uma chaminé, dois mastros de vela e era construído em ferro com apenas uma hélice propulsora. Dois motores invertidos davam a ele a velocidade de 10 nós.

Foi construído pelos estaleiros Malcolmson Brothers em Waterford na Irlanda e lançado ao mar em 1867.

Sua viagem de estréia aconteceu em Outubro de 1867 fazendo a rota Marselha (França) para o Rio de Janeiro, e a primeira viagem no ano seguinte na rota Marselha – Buenos Aires. Em 1870 seus motores invertidos foram substituídos por um motor composto.

Em 1893 foi aposentado e transformado em sucata. Um segundo navio POITOU foi construído em 1903 e naufragou 4 anos mais tarde na costa do Uruguai.
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(Continuação)...


Antonio Severini, Agosto 2007



 Saúde, Paz e Felicidades a Todos Nós


                  

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